A salvação humana operada por Jesus Cristo está inserida na história e na humanidade. Deus absolutamente transcendente, o Pai, envia seu Filho para se encarnar e entrar na dinâmica humana do tempo e da matéria. O Filho encarnado tornou-se sinal visível do Pai, da sua graça e da sua salvação. Tornou-se sacramento.
O ser humano, simbólico que é, só pode compreender pela linguagem, sinais, gestos, palavras que unem a coisa a seus significados Tal é o sacramento: um sinal que aponta para uma realidade que está para além da coisa em si. Em se tratando dos sacramentos da fé, o sacramento é o sinal eficaz da graça de Deus. Eficaz porque é o próprio Cristo quem atua por aquele sinal.
Uma vez na história e, pela ressurreição, ao mesmo tempo eterno, também o Filho deixou seu sacramento, aquilo que é sua presença constante na história humana: a Igreja. Porque a salvação que Jesus Cristo realizou é definitiva e é graça de Deus oferecida a todos os homens, até a consumação dos tempos, havia a necessidade de que sua presença fosse sensível e não apenas uma lembrança de um fato passado.
Pela Igreja, Jesus manifesta e oferece a salvação de modo universal, mas também individualmente, nos momentos existenciais mais decisivos da história pessoal e comunitária. Esses momentos em que se manifestam de modo singular a graça de Deus na vida do homem são sete, pela Tradição da Igreja e por instituição de Jesus Cristo, a saber, o nascimento e o crescimento, o alimento e a conversão, a vocação à família ou à comunidade, e situação de doença ou proximidade da morte. Não que se deva procurar em Jesus histórico uma instituição verbal ou ritual dos sacramentos, mas que, uma vez instituída a Igreja diretamente por Jesus, a instituição e eficácia dos sacramentos está garantida, de modo que Ele age pela Igreja.
A definitividade e universalidade da salvação e o seu caráter gratuito esbarra na liberdade humana. O sacramento, pelo que é sinal eficaz da graça, não depende de quem o administra nem de quem o recebe. Mas a liberdade de quem recebe pode aceitar ou rejeitar os frutos da graça. Os sacramentos supõe a fé, aceitação daquilo que é proposto por Deus pela Igreja. Assim, a iniciação cristã pelos sacramentos do batismo-crisma tem um caráter de inserção na comunidade de fé e também de alimento à fé. Pela iniciação, o iniciado é inserido no mistério salvífico de Jesus Cristo. Pela recepção da fé da Igreja, pode então fortificar em si e alimentar essa fé pelos outros sacramentos.
O sacramento tem um aspecto de sinal rememorativo, demonstrativo e prognóstico. É rememorativo porque evoca o acontecimento salvífico de Jesus Cristo, sua encarnação na história humana, que do passado se prolonga pela ressurreição até o presente onde é assumido por meio do sacramento. No seu aspecto demonstrativo, sinaliza a graça atual, em que Cristo age no presente onde é celebrado. A dimensão prognóstica, futura ou escatológica indica a consumação da graça no Reino definitivo, que se pode já vislumbrar nos sacramentos.
A necessidade dos sacramentos para alimentar a vida de fé se baseia no aspecto humano da comunicação. O homem assume com maior eficácia aquilo que lhe é comunicado por vias inteligíveis, sensíveis, porém, no caso dos sacramentos, sem poder abarcar todo o mistério. A graça invisível de Deus é colocada no nível humano de compreensão para que o próprio ser humano assimile e viva com maiores frutos, de acordo com sua capacidade, aquilo que é alimento para sua fé.
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