Reflexão para o 2º Domingo da Páscoa - 1ª leitura: At 5,12-16; Salmo 117; 2ª leitura: Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Evangelho: Jo 20,19-31).
A novidade da Páscoa do Senhor Jesus Cristo é tal, e tamanho é seu mistério que ninguém pode abarcar toda a sua realidade. O apóstolo e evangelista João, eminente teólogo, não conseguiu sequer escrever todos os sinais que Jesus realizara (Jo 20,30; 21,25). Mas este pequeno trecho do Evangelho de hoje serve de reflexão sobre muitos aspectos.
A liturgia de hoje cita o “primeiro dia da semana” (Jo 20,19) ou oitavo dia (Jo 20,26), isto é, o Domingo, Dia do Senhor (Ap 1,10), várias vezes. É o dia de reunião dos cristãos (cf. At 5,12) porque é o dia que o Senhor fez para nós (Sl 117,24), o dia da nova vida, nova criação, oitavo dia, acima do tempo cronológico (sete dias). É nesse dia que os cristãos, como os discípulos, fazem a experiência do Ressuscitado. Naquele episódio, puderam ver a carne e os ossos de Jesus, tal e qual foi crucificado. É o mesmo que foi morto, sepultado num túmulo lacrado. Não é a visão de um fantasma. Se bem que esse corpo ressuscitado tem algo de misterioso: entra por portas fechadas e vai onde quer. É realmente uma nova criação, em que também a matéria é redimida. Saberemos como é isso no dia da nossa ressurreição, porque, por Jesus, também nós ressuscitaremos no último dia, num corpo glorioso (1Cor 15,43-44).
São João fez questão de contar como Tomé teve de ter a certeza palpável da ressurreição, contra a heresia de que o Senhor não teria ressuscitado corporalmente, mas “espiritualmente” ou “na experiência subjetiva dos Apóstolos”. O que a fé apostólica nos transmitiu foi que o Senhor ressuscitou verdadeiramente, em carne e ossos (Lc 24,39). Também é citada por duas vezes a chaga do lado aberto de Jesus, como prova de que Ele também morreu verdadeiramente.
Nesta manifestação aos discípulos, Jesus dá a eles, além da prova da ressurreição, a missão e o poder sobre a Igreja, fundada por Ele, quando do seu lado aberto na cruz jorrou sangue e água, prefigurando o Batismo, pelo qual somos incorporados a Ele, e a Eucaristia, pela qual participamos do seu Corpo Glorioso. As palavras “como o Pai me enviou, Eu vos envio” e o gesto de soprar sobre eles o Espírito, também é sinal dessa realidade nova que é a Igreja de Jesus Cristo fundada sobre o fundamento dos Apóstolos.
No relato da criação, o Espírito pairava sobre as águas (Gn 1,2). O Espírito agora paira sobre a Igreja. A Ela foi dado o poder de perdoar pecados (Jo 20,23), enviada a anunciar a misericórdia de Deus a todos os povos (Mt 28,19). É feliz quem crê no testemunho dos Apóstolos: “Vimos o Senhor” (Jo 20,25), porque “felizes aqueles que creem sem ter visto!” (Jo 20,29). Assim acontecia na primeira geração de cristãos: ouviam e presenciavam os sinais e maravilhas realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos (At 5,12). À sombra de Pedro sentiam a força de Cristo (At 5,15).
Hoje, a Igreja de Cristo continua sendo guiada pelos Apóstolos, sob a autoridade de Pedro. A este foi dada especial autoridade pelo próprio Cristo, pelo tríplice “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21,15-17), pela promessa “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18), e pela entrega das “chaves do Reino dos céus” (Mt 16,19), isto é, autoridade total no que toca à fé cristã. Por tudo isto é que mesmo em meio às tormentas, perseguições e calúnias, a Igreja é sempre vitoriosa, porque não são os membros pecadores que prevalecem, mas a Cabeça toda Santa que é o próprio Cristo. E eis que Ele está conosco, membros de sua Igreja una, católica e apostólica, “todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
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