![]() |
A quaresma de Jesus |
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Ajuda à Igreja do Brasil: CF, mais uma vez, empobrecerá a Quaresma
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O canto sacro x o prazer dos sentidos
Agradam-me ainda, eu o confesso, os cânticos que tuas palavras vivificam, quando executados por voz suave e artística; todavia eles não me prendem, e dele posso me desvencilhar quando quero. Para assentarem no meu íntimo, em companhia com os pensamentos que lhe dão vida, buscam em meu coração um lugar de dignidade, mas eu me esforço ou me ofereço para ceder-lhes só o lugar conveniente.
Às vezes parece-me tributar-lhe mais atenção do que devia: sinto que tuas palavras santas, acompanhadas do canto, me inflamam de piedade mais devota e mais ardente do que se fossem cantadas de outro modo. Sinto que as emoções da alma encontram na voz e no canto, conforme suas peculiaridades, seu modo de expressão próprio, um misterioso estímulo de afinidade.
Mas o prazer dos sentidos, que não deveria seduzir o espírito, muitas vezes me engana. Os sentidos não se limitam a seguir, humildemente, a razão; o mesmo tendo sido admitidos graças à ela, buscam precedê-la e conduzi-la. É nisso que peco sem o sentir, embora depois o perceba.
Outras vezes, porém, querendo exageradamente evitar este engano, peco por excessiva severidade; chego ao ponto de querer afastar de meus ouvidos, e da própria Igreja, a melodia dos suaves cânticos que habitualmente acompanham os salmos de Davi. Nessas ocasiões parece-me que o mais seguro seria adotar o costume de Atanásio, bispo de Alexandria. Segundo me relataram, ele os mandava recitar com tão fraca inflexão de voz, que era mais uma declamação do que um canto.
Assim, oscilo entre o perigo do prazer e a constatação dos efeitos salutares do canto. Por isso, sem emitir juízo definitivo, inclino-me a aprovar o costume de cantar na igreja, para que, pelo prazer do ouvido, a alma ainda muito fraca, se eleve aos sentimentos de piedade. E quando me comovem mais os cantos do que as palavras cantadas, confesso meu pecado e mereço penitencia, e então preferiria não ouvir cantar.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
EDUCAR OS JOVENS PARA A JUSTIÇA E A PAZ
Divulgado o texto da Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2012, que se celebra em 1º de janeiro.
A íntegra da Mensagem aqui.
A Mensagem convida a um olhar de esperança para o futuro, "olhar o mundo na sua verdade sem se deixar abater pelas tribulações", conforme a esperança do povo que espera seu Senhor.
O Papa reconhece a particularidade da expectativa dos jovens, que podem, de fato, oferecer uma valiosa contribuição à sociedade. Para isso, é necessário que sejam educados para a justiça e a paz.
A educação é um processo que se alimenta do encontro de duas liberdades: a do adulto e a do jovem. Requer responsabilidade e disponibilidade, além do testemunho daquele que ensina.
Os educadores são, em primeiro lugar, os pais e a família. É um valor a se resgatar o respeito e a "solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro".
Também é grande o papel das instituições com tarefas educativas: devem valorizar e respeitar a dignidade humana de cada pessoa, e cuidar para não contrastar com as consciências e os princípios religiosos. A responsabilidade do próprio jovem é grande, cabendo-lhe fazer bom uso da liberdade.
A formação integral da pessoa exige que não se descuide da dimensão moral e espiritual. Educar para a verdade é colocar a questão sobre o fim último, sobre quem é a pessoa humana e qual sua natureza. Deve-se redescobrir o homem como ser com sede do infinito, sede de verdade que dê sentido à vida.
Para exercer a liberdade, deve-se conhecer o bem e o mal, e a si próprio. A lei moral natural, uma lei que está no íntimo da consciência, tem caráter universal e exprime a dignidade de cada pessoa, com seus direitos e deveres fundamentais.
"É importante não separar das suas raízes transcendentes o conceito de justiça", para sobrebor a tendência de se recorrer aos critérios de utilidade. A justiça, então, não é uma convenção humana, mas origina-se na própria identidade do ser humano.
A paz, que em última análise vem de Deus, não é apenas dom a ser recebido, mas obra a ser construída. "A paz para todos nasce da justiça de cada um, e ninguém pode subtrair-se a este compromisso essencial de promover a justiça segundo as respectivas competências e responsabilidades", sendo o ponto central o responsável uso da liberdade.
Aos jovens, o Papa pede: "Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação." Que os jovens sejam exemplos para os adultos de como viver intensamente os anseios de felicidade, verdade, beleza e amor verdadeiro. Neste caminho não estão sozinhos: "A Igreja confia em vós, acompanha-vos, encoraja-vos e deseja oferecer-vos o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus, de encontrar Jesus Cristo – Ele que é a justiça e a paz."
Tudo é relativo e cada um tem a “sua” verdade?
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
A Igreja e a pena de morte
Geralmente este debate se origina de uma posição falsa. A Igreja NÃO é a favor da pena de morte, como querem alguns, nem absolutamente CONTRA como querem outros.
Com isso não quero dizer que a Igreja está em cima do muro. Não, a sua posição é clara, e bastante conhecida, como repetirei mais abaixo.
A Igreja existe para salvar almas, o que a leva a agir na sociedade, aplicando seu juízo moral, segundo o direito natural e a doutrina revelada.
Matar sempre é um mal moral. Mas pode ser considerado mal menor em diversos casos. Por isso, está aberta a possibilidade de se admitir "em caso de extrema gravidade, a pena de morte". Observe então que "caso de extrema gravidade", "depois de esgotados todos os meios", são casos extraordinários que não podem ser regulados por nenhuma instância. Isto é, a sociedade não pode querer a pena de morte. Mas pode admitir que ocorra em certos casos não previstos, em caráter de urgência. A regulamentação ou defesa da pena de morte faz com que ela passe de extraordinária a ordinária, premeditada, prevista, querida.
Por isso o Catecismo, os Santos Doutores e os Papas deixam aberta a possibilidade de tal pena; porque sabem que se não houver outro recurso, é o último a ser usado.
Na sociedade atual, não se pode prever um caso em que seria justo condenar alguém à morte. Por exemplo, um caso recente, Sadam Hussein. O criminoso já estava preso, por si não poderia fugir e ninguém mais estaria disposto a lutar por ou com ele. A Igreja foi pronunciou-se (através da Sala de Imprensa, que não fala em nome do Magistério, mas do Papa) contra a execução (e não houve retratação deste pronunciamento, como era de se esperar, se estivesse equivocado). Outros casos, como Bin Laden e Gaddafi, aparentemente mortos durante operação de captura, a Igreja não se pronunciou contra a morte dos mesmos, a não ser pela utilização das imagens como espetáculo de morte, vingança e violência.
Na perspectiva dos Santos, vale lembrar que mais vale a vida eterna que a vida mortal. E que o pecador pode, por meios só conhecidos e oferecidos pela Divina Misericórdia, se salvar mesmo no seu último instante, sendo-lhe oferecida a oportunidade de purificação póstuma. Matar um corpo não mata a alma.
Por isso, não é o pior dos males.
Neste debate, vê-se que a emotividade ou os interesses políticos substituem a verdadeira consciência. A questão está muito facilmente fechada pelo Magistério da Igreja, e não cabe ao fiel cristão fazer militância pró ou contra.
Para terminar deixo as palavras do Magistério, que não necessitam muito esforço de interpretação:
Catecismo da Igreja Católica: "2263. A defesa legítima das pessoas e das sociedades não é uma excepção à proibição de matar o inocente que constitui o homicídio voluntário. «Do acto de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida; outro, a morte do agressor» (39). «Nada impede que um acto possa ter dois efeitos, dos quais só um esteja na intenção, estando o outro para além da intenção» (40).
2264. O amor para consigo mesmo permanece um princípio fundamental de moralidade. E, portanto, legítimo fazer respeitar o seu próprio direito à vida. Quem defende a sua vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe mortal:
«Se, para nos defendermos, usarmos duma violência maior do que a necessária, isso será ilícito. Mas se repelirmos a violência com moderação, isso será lícito [...]. E não é necessário à salvação que se deixe de praticar tal acto de defesa moderada para evitar a morte do outro: porque se está mais obrigado a velar pela própria vida do que pela alheia» (41).
2265. A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem. Defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal. É por esta razão que os detentores legítimos da autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil confiada à sua responsabilidade.
2266. O esforço do Estado em reprimir a difusão de comportamentos que lesam os direitos humanos e as regras fundamentais da convivência civil, corresponde a uma exigência de preservar o bem comum. É direito e dever da autoridade pública legítima infligir penas proporcionadas à gravidade do delito. A pena tem como primeiro objectivo reparar a desordem introduzida pela culpa. Quando esta pena é voluntariamente aceite pelo culpado, adquire valor de expiação. A pena tem ainda como objectivo, para além da defesa da ordem pública e da protecção da segurança das pessoas, uma finalidade medicinal, posto que deve, na medida do possível, contribuir para a emenda do culpado.