Nicola Bux, teólogo e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, apresentou em 2 de março o seu novo livro: Come andare a Messa e non perdere la fede. Trata da virada antropológica ocorrida na liturgia pós concílio, dos abusos e do esforço pela reforma empreendida por Bento XVI. O autor sustenta que "um enfraquecimento da fé e a diminuição do número de fiéis poderiam ser atribuídos aos abusos litúrgicos e às Missas ruins, quer dizer, às que traem seu sentido original e onde, no centro, já não está Deus, mas o homem, com a bagagem de suas perguntas existenciais", conforme apresentação de Zenit.
Disponibilizo uma tradução livre do primeiro capítulo, intitulado "Em que condições está a Missa", que apresenta um panorama geral da atual liturgia.
O original está disponível gratuitamente no site da editora Piemme. Qualquer melhoria na tradução, favor me contatar. Oxalá alguma editora no Brasil se interesse em traduzir e publicar. E rápido.
BUX, Nicola. Come andare a Messa e non perdere la fede. Milão: Piemme, 2010.
Cap. I – Em que condições está a Missa
Agostinho e os pés de galinha
Quantos são os católicos praticantes na Itália? Na Internet há sondagens para todos os gostos. Muitos católicos dizem que estão praticando, mas não vão à igreja, enquanto frequentam santuários e fazem peregrinação. O que tem influenciado a situação atual relativa à celebração eucarística, que sofre de negligência por parte dos sacerdotes e da ignorância dos fiéis? O resultado: se a missa é chata e sem sentido, se abandona sua prática.
No túmulo de Santo Agostinho em Pavia, são retratados com pés de galinha, símbolo demoníaco, Ário que negava a divindade de Jesus, Pelágio que negou a Graça e Donato que combateu a unidade da Igreja. Hoje podemos encontrar as mesmas heresias na liturgia: o Santíssimo Sacramento em um canto, não indica mais no templo a presença permanente de Deus; o lugar do sacerdote é sempre o maior e mais visível em detrimento da ação invisível mas eficaz da graça sacramental; o rito centrado na comunidade local, não refere à unidade católica. Jovens que haviam pedido ao reitor de uma basílica pontifícia a permissão para celebrar a Missa Tridentina, conhecido como "forma extraordinária", ouvem-no responder: eu estou no comando aqui, o Papa, em Roma; eles replicam: permitiu que os ortodoxos celebrassem em seu próprio rito, ainda que não estejam - como dizem - em plena comunhão; o reitor retruca: vocês são reacionários.
Se não é assim, eu pergunto: é concebível que um responsável pela liturgia de uma grande diocese se desabafe com um religioso, dizendo: a coisa que mais me incomoda é a comunhão de joelhos? Ou que um padre diga: não me interessa o crucifixo no altar? Há alguns que odeiam a planeta [casula romana], a veste que o padre usa para a missa, tendo prevalecido após o Concílio a casula [gótica], mais por tendência do que por praticidade; a primeira o é mais, ela ainda existe e são belas em comparação com a casula empalidecida; apenas no verão se torna opcional. Tudo por um ódio à planeta, contra a nossa história.
Outro padre, vendo uma pessoa que havia recebido a comunhão estava devotamente ajoelhado em meditação, se colocou de joelhos para zombar. Coisas da psicopatologia. Para não mencionar uma história das píxides com hóstias consagradas levadas a uma concelebração, colocadas primeiro em uma credência ao aberto, então, tomadas por um padre consciencioso, que vai em busca de um sacrário para depô-las. O mais próximo estava cheio. Então o pároco lhe diz: coloque naquele armário, assim não entra ninguém. É possível que um "homem de Deus" – assim as pessoas há um tempo chamavam o padre – chegue a esse ponto?
No túmulo de Santo Agostinho em Pavia, são retratados com pés de galinha, símbolo demoníaco, Ário que negava a divindade de Jesus, Pelágio que negou a Graça e Donato que combateu a unidade da Igreja. Hoje podemos encontrar as mesmas heresias na liturgia: o Santíssimo Sacramento em um canto, não indica mais no templo a presença permanente de Deus; o lugar do sacerdote é sempre o maior e mais visível em detrimento da ação invisível mas eficaz da graça sacramental; o rito centrado na comunidade local, não refere à unidade católica. Jovens que haviam pedido ao reitor de uma basílica pontifícia a permissão para celebrar a Missa Tridentina, conhecido como "forma extraordinária", ouvem-no responder: eu estou no comando aqui, o Papa, em Roma; eles replicam: permitiu que os ortodoxos celebrassem em seu próprio rito, ainda que não estejam - como dizem - em plena comunhão; o reitor retruca: vocês são reacionários.
Se não é assim, eu pergunto: é concebível que um responsável pela liturgia de uma grande diocese se desabafe com um religioso, dizendo: a coisa que mais me incomoda é a comunhão de joelhos? Ou que um padre diga: não me interessa o crucifixo no altar? Há alguns que odeiam a planeta [casula romana], a veste que o padre usa para a missa, tendo prevalecido após o Concílio a casula [gótica], mais por tendência do que por praticidade; a primeira o é mais, ela ainda existe e são belas em comparação com a casula empalidecida; apenas no verão se torna opcional. Tudo por um ódio à planeta, contra a nossa história.
Outro padre, vendo uma pessoa que havia recebido a comunhão estava devotamente ajoelhado em meditação, se colocou de joelhos para zombar. Coisas da psicopatologia. Para não mencionar uma história das píxides com hóstias consagradas levadas a uma concelebração, colocadas primeiro em uma credência ao aberto, então, tomadas por um padre consciencioso, que vai em busca de um sacrário para depô-las. O mais próximo estava cheio. Então o pároco lhe diz: coloque naquele armário, assim não entra ninguém. É possível que um "homem de Deus" – assim as pessoas há um tempo chamavam o padre – chegue a esse ponto?
Alguns argumentam que não devemos imitar o Papa em sua celebração: Ah, ótimo! E a missa que celebramos no mundo católico romano e latino, de que rito é? O que aconteceu com a unidade do rito mencionado na Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC 38)?
Tudo isso é atribuível à reforma litúrgica? O que aconteceu? Paulo VI acreditava que a "fumaça de Satanás entrou no templo". Bento XVI insiste que o mal vem de dentro da Igreja. É tempo de uma grave crise em grande parte devido ao colapso da liturgia, como ele disse quando ele ainda era cardeal. Se você não acreditar que Jesus Cristo está presente no Sacramento, que é o sagrado que podemos tocar, então a liturgia não é "sagrada", não faz sentido: a quem se destina? Agora, ao povo.
Do observatório francês se nota que "liturgicamente, a Igreja em nossos dias está doente. Os liturgistas de Bento XVI, e o mesmo Papa Bento XVI, poderão agir de forma diferente da doce medicina do exemplo: aquela do Soberano Pontífice, os bispos que querem dar o exemplo a seguir seu exemplo?” (C. BARTHE, La Messe à l’endroit: pastorale de la réforme, L’Homme Nouveau, Hora decima, Orthez 2010, p. 71.) Assim, a crise da Igreja é devida à crise da liturgia, tornou-se incontrolável, faça-você-mesmo, esquecida a lei de Deus, o jus divinum.
Tudo isso é imputável ao Concílio Vaticano II? Não é justo, mas é verdade que as instruções que vieram depois, muitas vezes contraditórias, têm contribuído significativamente, tornando a liturgia sagrada e imutável um objeto de jogo e ensaio, portanto, mudando completamente.
Há um direito de Deus de ser adorado: ele revelou a Moisés, ordenando em detalhes a forma da tenda entre o seu povo para celebrar e adorar; Jesus descreveu à mulher samaritana como adorar o Pai, e aos apóstolos como preparar a Última Ceia. O Senhor não tolera que sua competência seja usurpada: o culto lhe pertence. Do substrato judaico até a definição apostólica, este é o jus divinum na sagrada liturgia: mas isto não é reconhecido, como provam os sacerdotes e os grupos que a desfazem à vontade. O método per ritus et preces, os ritos e preces pela qual a Constituição litúrgica (48) exige que haja compreensão da liturgia é substituído por uma massa de palavras: o sacerdote considera que se ele não explica os rituais não funcionam com eficácia. Mas, se pode pedir à liturgia para se tornar catequese? Assim, estamos imersos na banalidade; as crianças são impedidas de participar nas liturgias solenes, sob o pretexto de especiais necessidades psicológicas, pensando que eles não entendem e assim eles são desprovidos do encontro com o mistério divino através da maravilha, do silêncio, da escuta, da música sacra, da oração e ação de graças como aconteceu conosco desde pequenos, e crescemos na fé através da participação na liturgia da Igreja Católica, com sua dimensão universal. As crianças não querem crescer e estar com os grandes?
João Paulo II em 2004, promulgou a Instrução Redemptionis Sacramentum como chamada à ordem, mas muitos a ignoram, rejeitam ou desprezam. Por quê? São Bento escreveu na regra: " Nihil Operi Dei praeponetur (43, 3) - nada se antepor ao Ofício Divino - : a ideia de que a liturgia é a obra de Deus, o Opus Dei, que vem do alto, "o céu sobre a terra ", diz o Oriente cristão, foi perdido: não, nós fazemos a partir de baixo, assim, como alguém brincou, os altares são agora “bassari” [humildes, baixas?], mesas mais perto das pessoas e não lugares altos onde subir, como o Gólgota , para o sacrifício de Cristo e a nosso. O céu não conquistamos saltando para cima, disse Simone Weil, o céu deve vir para baixo! Porque tudo isso leva de novo à fé na presença do Senhor Jesus entre nós.
Santo Ambrósio ensina aos fiéis o que eles devem acreditar depois de celebrar o batismo: "Estou certo de que há a presença da divindade. Será que você acredita, na verdade, na sua ação e não acreditam na sua presença? Como pôde acompanhar a ação, a menos que precedesse a presença?" (SANTO AMBRÓSIO, De mysteriis, 8; SCh 25 bis, 158.)
É um antigo mistério este da presença divina, do primeiro ao último livro da Bíblia. A Jesus, muitos "imploraram para tocar na orla do seu manto. E aqueles que tocavam ficavam curados" (Mt 14, 36), porque a sua carne, doada no Sacramento é a fonte da vida que cura e transforma o homem: " E toda a multidão procurava tocar-lhe porque dele saía uma força que curava a todos" (Lc 6, 19).
Ver parte II
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